segunda-feira, 28 de abril de 2014

CURITIBA: Flupp Brasil reúne público de diferentes comunidades para discutir literatura

A importância da brasilidade na literatura e tornar os livros mais acessíveis à população foram alguns dos temas em destaque neste sábado (26) durante o segundo dia da Festa Literária das Periferias – Flupp Brasil, que acontece na Vila Verde, no bairro CIC. Voltado à formação de leitores e a descoberta de novos escritores nos bairros de vulnerabilidade social da cidade, o evento - realizado com o apoio da Prefeitura de Curitiba - reúne para debates e conversas literárias a comunidade local, acadêmicos de diferentes áreas, leitores e escritores, além de professores e estudantes da rede municipal de ensino de Curitiba.
 A participação de diferentes públicos e a qualidade dos debates promovidos deste a manhã de sexta-feira (25), surpreendeu a organização  da Flupp. “O que buscamos foi juntar diferentes sotaques para uma discussão do Brasil tendo o livro como mediador. A boa participação e o interesse do público nos deixou muito satisfeitos em Curitiba”, disse o pesquisador Ecio Soares, um dos organizadores.  
Boa parte do anfiteatro Peça por Peça, no terreno da Escola Municipal Professora América da Costa Sabóia, onde a Flupp aconteceu, esteve ocupado na manhã de sábado para a conversa literária entre a escritora curitibana Luci Collin, o escritor o Juan Pablo Villalobos.
A conversa abordou a importância da literatura no ensino escolar, a necessidade da valorização e incentivo à literatura nos países da América latina, entre outros temas. Luci Collin falou sobre o orgulho que sente da produção literária brasileira, porém, que considera o escritor brasileiro, embora com grande qualidade de produção, ainda é pouco reconhecido e valorizado.
“Temos uma literatura muito rica em nosso país, porém pouco utilizada. Os professores têm feito um trabalho heróico, estimulando a leitura entre os alunos, o que nos oferece uma perspectiva  melhor para uma mudança deste cenário”, disse Luci.
Juan Pablo Villalobos, que mora atualmente no Brasil, contou sobre sua vida depois de ter deixado o México e do teor político de seus livros. O escritor considera haver poucos leitores na América Latina onde, segundo ele, de forma geral, o livro perdeu lugar na sociedade e ocupa, em muitas vezes, espaços não democráticos.
“Gostaria de viver em uma sociedade em que a literatura fosse algo natural, comum. O livro deveria circular facilmente, fazer parte da vida das pessoas”.
O livro, segundo Villalobos está distante da sociedade e precisa ser recuperado. “Existe um momento adequado para o livro adequado. Sem isso, a leitura corre o risco de ser chata ou cansativa. Porém, os livros devem estar acessíveis a todos, em bibliotecas pequenas, próximas”, defendeu o escritor.
Modernismo  
A produção nacional também foi tema da palestra do filósofo Eduardo Jardim, que reuniu um grupo de interessados sobre o escritor modernista, Mario de Andrade. Em sua palestra, Jardim abordou a importância da brasilidade e da preocupação manifestada com o nacional e a brasilidade em toda a obra de Mario de Andrade, o autor que levantou a bandeira do modernismo no Brasil.
“Mario de Andrade buscava um Brasil unitário. Ele foi um incentivador do consumo de todos os tipos de arte no país”, disse Jardim sobre o autor de Macunaíma, uma das mais importantes obras da literatura brasileira.
Também aconteceram debates e conversas com Bernardo Buarque de Holanda, que falou sobre a obra de Sérgio Buarque de Hollanda e com o escritor argelino Abdelkader Djemai.
Os acadêmicos da Universidade Federal do Paraná  UFPR) Suelen Trevisan e Fernando Araújo acompanharam os dois dias de programação e consideraram a Flupp Brasil a abertura para novos formatos de discussão, fora do eixo central da cidade. “Mais do que respostas sobre o Brasil, saio deste evento com muitas reflexões sobre o país. Foram debates de muita qualidade”, disse Suelen, acadêmica de Letras da UFPR.
Além da proximidade com autores locais, nacionais e internacionais, Fernando considerou positiva a mescla entre os participantes. “Este movimento na Vila Verde, integrando a comunidade local é algo de muito representativo e que enriquece os debates que aconteceram”, disse.
Os jovens estão entre as pessoas que se motivaram a produzir textos reflexivos sobre o Brasil, a partir da obra dos clássicos pensadores brasileiros debatidos durante o evento. Dez textos serão selecionados para compor um livro do evento que terá também trabalhos produzidos pelos participantes das edições que serão realizadas também em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. O livro do evento terá 40 textos e deverá ser publicado em agosto.
Durante os dois dias de Flupp Brasil estiveram reunidos em Curitiba escritores locais como Cristovão Tezza, Rogério Pereira e Luci Collin. Os escritores locais conversaram com os convidados internacionais Mohsen Emadi, do Irã, Kim Young-ha, da Coreia do Sul, e Abdelkader Djemai, da Argélia. Além dos encontros literários, aconteceram quatro palestras sobre grandes pensadores do Brasil: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro e Mário de Andrade.
Repórteres Mirins
A movimentação na escola municipal da região sul da cidade, em função da festa literária, foi registrada e acompanhada por boa parte do grupo de estudantes municipais que participam como repórteres mirins do projeto do jornal Eletrônico Extra! Extra! e jornal Papa Informa, produzido por estudantes da Escola Municipal Papa João XXIII.
As crianças estiveram presentes aos debates e aproveitaram os intervalos para entrevistar os escritores. Para Ana Clara Nunes, uma das repórteres do jornal Papa Informa, a experiência vivenciada durante a entrevista com Julio Ludemir, um dos  organizadores do evento, valeu como uma aula de cidadania e motivação. “Assim como eu, o Júlio tem a ideia de que o mundo pode ser melhor se todos pensarmos no desenvolvimento e nas oportunidades coletivas”, disse a estudante de 11 anos.
Wanessa Jarvorski, de 13 anos, participou do evento com o olhar apurado e questionador de quem busca uma comunidade melhor para viver. Os desejos são resultados das ações vivenciadas pela estudante em dois projetos desenvolvidos na escola onde estuda.  Além de repórter mirim do Extra!Extra!, a estudante faz parte do projeto Urbanistas Mirins, que incluí  estudantes municipais no processo de revisão do novo Plano Diretor da Cidade. “Tantas pessoas, de tantos lugares me ajudaram a saber mais sobre a vida de escritores importantes. Tudo será muito útil para mim”, disse a estudante. 

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